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01 de setembro de 2016 • 7 min de leitura
(09/2016)
— Charlene, minha querida! Estou exausta!
— Lara (ela nunca conseguia pronunciar Iara)! “Please”! Só mais um pouquinho. Acho que conheci o cara da minha vida!
Nungu Camp. Local onde realizei, com outras nove pessoas, uma de cada país, por três semanas, trabalho voluntário na África do Sul – Hoedspruit, coordenada por Charlene e André, sul-africanos residentes no local. Um Centro de reabilitação de Chitas. Muitos conhecem estes animais pelo nome de Guepardos. O felino mais veloz do planeta.
Nossa rotina diária:
— Acordávamos às 4:30h, tomávamos um café bebido e nos dirigíamos para o galpão de alimentação. Ali, preparávamos cento e vinte refeições para as chitas e demais animais. Era uma esteira de produção. Cada um fazia uma parte do processo, em revezamento. A carne picada, congelada, era amassada até virar uma massa mole. Após, havia a pesagem e era inserida uma dose certa de vitamina. Novamente o alimento era amassado até absorver todo o pó, pois os felinos rejeitavam a comida se o percebessem. Atenção ao trabalho era fundamental, pois tínhamos três pesagens, três doses vitamínicas em três potes diferentes, de acordo com a idade dos animais. Lá pela quinta refeição, nossos dedos já começavam a congelar. Colocávamos luvas, mas não havia jeito. Havia muito gelo na carne. A solução era, de quando em quando, colocar as mãos na água morna.
— Às 7h, pontualmente, retornávamos ao acampamento para preparar e tomar nosso desjejum. Uma hora cravada.
— Às 8h, saíamos para distribuir a alimentação aos animais. Entrávamos nas grandes “cages”, muitas vezes, com as chitas ao nosso lado. Retirávamos o prato do dia anterior, limpávamos os buracos destinados à água e colocávamos a comida do dia.
— Às 12h, retornávamos ao acampamento, fazíamos nosso lanche e descansávamos até às 14h.
— Às 14h, saída para colocar água para os animais. Eram quatro viagens na tarde. Em cada uma delas, enchíamos vinte garrafões de 25 litros cada um. Colocávamos e tirávamos do carro para a distribuição da água.
— Às 18h, retorno ao nosso lar. Tomávamos banho, preparávamos o nosso jantar, confraternizávamos e normalmente, dançávamos ao som de músicas afro ou outro gênero, até o — “Boa noite queridos! Até daqui a pouco.”
Era trabalho duro. Só muito amor aos animais e à aventura para dar conta dessa rotina.
E estou aqui, com minha coordenadora, Charlene, às 2h — da manhã do domingo!
No sábado, após toda essa semana e um dia inteiro de aprendizado e exercícios de sobrevivência na savana, retiradas de armadilhas destinadas aos animais, no Centro da Guarda Florestal, fomos a uma danceteria. Nosso programa de final de semana. Uma festa ótima, que iniciou às 21h. E dancei até este momento. Meu corpo? Nem sinto mais ele aqui.
— Charlene, combinamos que a festa iria até às 24h. Já são duas da manhã. Quem sabe combina com ele para saírem amanhã?
— Lara (sempre trocava o I por L!), Paul pediu para eu ficar só mais um pouquinho. Não tenho um namorado há muito tempo. Ele é muito legal. É guarda florestal e está com o “dog” dele aqui. Que é um amor! “Please”!
Olhei no fundo dos olhos dela. Lindos. De um azul de doer na alma. E, mesmo que fossem de outra cor, eu olharia e sentiria a mesma coisa. Nossa amizade iniciou na primeira troca de olhares. Ela, com 1,92m de altura. Eu, com os meus 1,52m. Num abraço dela, eu desaparecia. Nossas risadas ecoavam onde estivéssemos. Muitas vezes, nossos diálogos precisavam ser repetidos, pois meu inglês não dava conta. E isso sempre era motivo para rirmos mais ainda.
— Ok, Charlene. Vamos fazer assim. Eu fico aqui no carro, dormindo. E a hora que tu achares melhor, a gente vai embora.
Nunca vou esquecer o sorrisão dela. Me deu um abraço de quebrar esqueleto. Se tivesse quebrado, não sentiria também. De tanto cansaço. E assim, retornamos à nossa jaula às 6h da manhã.
Jaula sim! Esqueci de contar. Nosso acampamento ficava em um cercado no meio da savana, onde recebíamos visitas de todos os animais. Mas isto eu conto em outro texto.
Eu e Charlene, após o fim do meu trabalho como voluntária, continuamos a nos comunicar pela rede. E, eis que, passado um ano desta conversa aqui, recebi o post dela: casou-se com Paul Boskind Penny. Gente, não consegui traduzir minha emoção. Só sei dizer: chorei de montanha! E enviei mensagem com mil corações vermelhos para ela. E um áudio, com aquele meu inglês que nem preciso falar novamente.
Ela e Paul foram casados por vários anos, unidos por um amor lindo de acompanhar. Recebia notícias deles quase que diárias. Sempre envolvidos e atuantes nos programas em prol dos animais. A família, em um determinado momento, aumentou: também esteve com eles um gatinho, lindo de viver!
Neste dia chuvoso de hoje, ao curtir um “post” dela, me veio a lembrança desta nossa história. E claro, uma reflexão, antes de pular da cama e escrever.
Quantas vezes, dominados pela não vontade, pelo medo, pelo cansaço ou descrença, achamos melhor negar algo que pode ser uma chance, uma oportunidade de fazer a diferença na vida de outra(s) pessoa(s) ou na nossa.
Sempre que a palavra “não” se avizinha a meus lábios (ou quase sempre), paro, respiro e penso: meus “Sims”, em geral, foram flechas que, ao acertarem seus alvos, trouxeram boas e agradáveis surpresas.
Por mais Sims na vida!




















