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04 de setembro de 2025 • 4 min de leitura
Há decisões em que a bússola, contrariando as leis da física, aponta para o sul. Entretanto, no trajeto da escolha, a seta recebe ondas magnéticas, se desgoverna e, quando parece se alinhar, viajamos em saltos quânticos em que emissões de luz nos conduzem para órbitas antes não imaginadas. Foi o que sucedeu comigo quando, ao usufruir uma licença do trabalho para concluir um doutorado, tanto ele quanto o trabalho não contaram mais com minha presença.
Foram vencidos pelas lentes de uma câmera, inicialmente amadora que, após uma viagem “estrela guia”, transformou-se não só em equipamento profissional, mas também em mentora de meus destinos. Alan Turing expressou que pensamos como seres humanos e máquinas pensam enquanto máquinas... elas podem “pensar”. O que minha câmera fotográfica e lentes “pensam” espelha-se nos destinos dos bilhetes que, desde a tal licença, me levam em busca de imagens e histórias para contar.
A viagem “estrela guia” me fez aterrissar em Daar Salam e, de lá, em um comboio, atravessar cinco países – Tanzânia, Botswana, Zâmbia, Zimbabue e África do Sul. Por duas semanas, em paradas diárias, fiz safaris por terra e água, pernoitei em lodges nos quais o bom dia era dado por meio dos sons emanados por pássaros, búfalos, girafas, zebras, leões e macacos das mais diversas pelagens e tamanhos. Nas estações, a chegada do trem era aguardada por crianças e mulheres que, na despedida, corriam ao lado dos trilhos, acenando e sorrindo. Assim, com esses cenários e seus atores, minha alma foi abduzida pela África, o que me levou a viajar para mais de quinze países do continente africano.
Qual foi o encanto ou magia que de mim se apoderou? As cores do nascer e do pôr do sol, as árvores dançantes, os sabores das feiras empoeiradas, os sorrisos francos e honestos das crianças, o vestuário multicolorido das africanas e as bandanas amarrando-lhes os cabelos, a savana com seus exóticos e admiráveis animais em plena liberdade, a presença de vida e de morte no ciclo da vida selvagem, as danças tribais e seus mascarados. Poderia discorrer páginas sobre a pujante beleza que enfeitiça até quem por lá se aventura a ir com olhos vendados. Me apaixonei pelo solo africano, suas histórias de amor, suas dores, suas guerras, seus tratados de paz, pela memória dos elefantes que, independentemente do desenvolvimento de um espaço geográfico - das emboscadas ali sofridas, das vitórias e dos fracassos vivenciados – dele não se desvinculam e para ele retornam por uma vida inteira. Me enamorei e ponto. Amor não se explica, se vive.
Entre um e outro país africano, outros solos receberam a marca de minhas botinas, os clicks de meu equipamento fotográfico e, a três continentes levei e deixei meu trabalho voluntário enquanto inspiração para familiares e amigos. Tenho amizades e conexões por todos os locais pelos quais passei, presentes que guardo com zelo e carinho.
Não vou deixar dicas ou links para aqueles que visitarem meu blog. Para tal, existem milhares de outros endereços eletrônicos disponíveis. Aprendi, ao fazer o Caminho de Compostella que, a cada destino de um viajante, uma história única o aguarda. Viajantes desenham suas rotas sem serem influenciados por opiniões e ensinamentos alheios. Olham mapas, estudam áreas de interesse, cruzam sonhos, expectativas com coordenadas geográficas. As viagens e seus resultados, mesmo com um bom planejamento, acontecem alheios à linhas traçadas e, com suas luzes e sombras, tornam-se ímpares em suas narrações. Então, você deve estar questionando: a que se propõe esse blog? A isso que está escrito.
Aqui nesse espaço vou contar histórias vivenciadas em alguns destinos que receberam minhas pegadas. Espero que apreciem. Sim, quanto aos hotéis, culinária, pontos turísticos, dicas de mala e dinheiro... não faltam blogs e influenciadores para dar conta disso. Mas creia, sua viagem é sua viagem. Não é possível andar nela com os pés de outrem.
































